As
coisas dependem do jeito que a gente vê
As coisas têm muito jeito de ser
O cumprido pode ser curto
O pouco pode ser muito
Depende do jeito que a gente ver
O manso pode ser bravo
E o escuro pode
ser claro
O fino pode ser redondo
E o doce pode ser
amargo
O quente pode ser frio
E o que parece um mar também pode ser um rio.
Quem já se queimou num pedaço de gelo
Sabe que o banho
quente não pode se espantar do frio
Uma árvore é tão grande se a gente olha lá para cima
Mas do alto de uma
montanha ela parece tão pequenina
E se você vê uma mulher pequena
Também ela pode ser uma menina
O domingo é tão curto os outros dias duram tanto
As horas e os outros dias são iguais
A diferença deve estar naquilo que a gente faz
Qualquer dia tanto fez como tanto faz
O amanhã de ontem é hoje
O hoje é o ontem
de amanhã
Dentro dessa complicação quem tem uma explicação?
O amanha sempre chega você vendo ou não
Será que tudo está no meio
E não existe só o
bonito ou só o feio?
Parece mesmo que no fim o bom pode ser ruim
E neste caso por que não o ruim pode ser bonzim?
Ver de um jeito agora
E de outro jeito depois
Ou melhor ainda
Ver na mesma hora os dois
Mais tudo isso tem um mistério
E tudo pode acontecer
Depende do que?
Do jeito que a gente vê.
Mansur, Jandira. O frio pode ser quente? São Paulo:
Ática, 1985
Blog do Moaci literatura de cordel
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