sábado, 8 de outubro de 2016

As coisas dependem do jeito que a gente vê




As coisas dependem do jeito que a gente vê



As coisas têm muito jeito de ser

O cumprido pode ser curto

O pouco pode ser muito

Depende do jeito que a gente ver



O manso pode ser bravo

 E o escuro pode ser claro

O fino pode ser redondo

 E o doce pode ser amargo



O quente pode ser frio

E o que parece um mar também pode ser um rio.

Quem já se queimou num pedaço de gelo

Sabe que o  banho quente não pode se espantar do frio



Uma árvore é tão grande se a gente olha lá para cima

 Mas do alto de uma montanha ela parece tão pequenina

E se você vê uma mulher pequena

Também ela pode ser uma menina



O domingo é tão curto os outros dias duram tanto

As horas e os outros dias são iguais

A diferença deve estar naquilo que a gente faz

Qualquer dia tanto fez como tanto faz



O amanhã de ontem é hoje

 O hoje é o ontem de amanhã

Dentro dessa complicação quem tem uma explicação?

O amanha sempre chega você vendo ou não



Será que tudo está no meio

 E não existe só o bonito ou só o feio?

Parece mesmo que no fim o bom pode ser ruim

E neste caso por que não o ruim pode ser bonzim?



Ver de um jeito agora

E de outro jeito depois

Ou melhor ainda

Ver na mesma hora os dois



Mais tudo isso tem um mistério

E tudo pode acontecer

Depende do que?

Do jeito que a gente vê.



Mansur, Jandira. O frio pode ser quente? São Paulo: Ática, 1985

Blog do Moaci literatura de cordel

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